maio 09, 2006

Vagabundo da areia.



Lá fora o vento soprava forte e chovia uma aguaceiro miudinho. O empregado trouxe-me o café, olhei pela janela e lá estavas tu. Já perdi a conta dos anos que venho a esta praia, e desde que me recordo tu estás sempre aqui. Precorres a imensidão da areia no teu passo lento de quem não tem ninguem que o espere, os amigos há muito que se foram, nunca encontraste a peça do teu puzzle, nunca tiveste os filhos que sempre quiseste, vives apenas com a praia e o mar, desconfio até que nem casa tens, deves dormir nas dunas desta praia que tanto amas. Apenas uma vez te vi o rosto, por vergonha nunca te abordei nos meus passeios pela areia, sempre que me cruzei contigo baixava os olhos, mas nesse dia estava um sol lindo e tu traido pela vaga de calor entras-te no bar e compraste uma garrafa de agua.
Fiquei fascinado pelo azul dos teus olhos, o azul do mar... Na tua pele curtida pelo sal , pelo vento descobri desenhos, feitos quem sabe numa viagem. Sempre pensei que fosses marinheiro, que tivesses precorrido os sete mares em busca de tesouros ou da tua peça do puzzle.
Desde esse dia em que desapareceste no meio da chuva, por entre dunas nunca mais te vi. Perguntei por ti, mas ninguem te conhecia, eras apenas um vagabunda da areia, a memoria de quem eras ha muito tinha desaparecido.
Apareces-te na praia dias depois, as vestes rasgadas, a boca roxa... Nunca te pensei capaz desse acto, sempre te imaginei um amante da vida, enganei-me. O mar devolveu-te, nao te quis abraçar nos seus braços, castigou-te pelo acto...

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

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6:58 da tarde  

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